Wednesday 23 November 2016

"Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço"

Recife é uma cidade que sempre me encantou. Estive lá a primeira vez nos anos 90, num maravilhoso Abril pro Rock, nos tempos áureos do Mangue Beat e de Chico Science. Desde então, criei uma relação de amor a esta cidade quente, confusa, engarrafada e linda! Nos últimos anos tenho voltado com mais freqüência à cidade, pois minha irmã resolveu morar por lá. Uma coisa que sempre pensei em Recife/Olinda  era: "a cidade é bonita, tem cantinhos deliciosos para beber uma cerveja, mas está no paradigma Ambev". No máximo uma Heineken dava para encontrar nos bares. Lembro de uma vez em que fui ao supermercado louca por uma cerveja e me deparei com um corredor abarrotado de Skol, Kaiser, Brahma, Antártica. Só pensava, "nem uma mísera Stelinha!".

Pois esta realidade começou a mudar. E mudar muito. Entre 2015 e 2016 oito microcervejarias abriram na região. Recife já conta com 17 bares cervejeiros onde se pode encontrar uma variedade surtida de cervejas, e várias lojinhas. E as cervejas estão muito boas! Vamos a elas:
DeBron, Eköut, Estrada, Duvália, PatLou, Capunga, Babylon, Yellow House. Não consegui experimentar as três últimas. Mas em relação às cinco primeiras, tive ótimas surpresas!

O chopp American IPA da Estrada é ótimo. Altamente lupulada mas sem o hash desagradável, relativamente comum em IPA's. Lúpulos e o calor de Pernambuco são uma combinação perfeita. Falando em lúpulos,  a 1817 APA da Eköut, também foi um grande encontro. Mais suave, porém não menos saborosa, esta cerveja, homenagem a Revolução Pernambucana, leva boa carga de Centennial e Cascade. Outra excelente pedida para os hopheads.  Da Eköut, pude provar também a Munich Helles, suave e maltada, que combina com o clima da cidade (e deve harmonizar maravilhosamente bem com os caldinhos de sururu e caranguejo). A PatLou, provei estilos mais ousados para o clima local: uma Porter com chocolate. Sou a fanática das Porters, então, não foi difícil gostar, até porque, esta Porter estava lindamente confeccionada. Sem adstringência nenhuma, o que permitia degustar todo o amargor dos maltes tostados e a presença leve, sem exageros, do chocolate. Porters são um estilo um pouco subjugado no Brasil. Muito raro encontrar bons exemplares nacionais. A PatLou conseguiu produzir uma Porter que, bebida fresca, não deve nada para algumas porters londrinas. Experimentei também uma American Wheat muito boa. Com a Duvália dei azar. Não porque não tivesse cervejas excelentes, mas porque o local onde bebi mal sabia o que era um chopp e mantinha os barris expostos sem refrigeração nenhuma e uma chopeira de dar pena.  Então a cerveja estava muito mal tratada no ponto de venda (aliás, curiosidade, no bar havia anuncio de chopp claro e escuro. Pedi um escuro sem dúvidas! Veio um chopp pale ale. Em alguns lugares não especializados, descobri que para os pernambucanos, qualquer cerveja que não seja absolutamente amerelinha, é chamada de cerveja escura). Mas experimentei a weiss e a stout com mel de engenho (acho uma graça o jeito que os pernambucanos chamam melado). Pude perceber que ambas são ótimas cervejas, mas os barris estavam muito judiados, o que prejudicou um tanto a qualidade do produto.

Por fim a DeBron. Bom, a DeBron é um capítulo a parte. Pelo que ouvi é, entre todas as cervejarias locais, a que possui melhor infraestrutura em equipamentos. E eles estão investindo pesado no negócio. E está dando frutos. Foi da DeBron a minha maior surpresa. Porque bebi dois estilos que realmente não sou muito fã: weiss e witbier. A weiss é excelente! Não muito esterificada, suave na medida certa, equilíbrio perfeito entre o cravo e a banana.  Ainda que não seja uma apreciadora nata do estilo, gosto de algumas raríssimas weiss brasileiras, mas todas do sul do Brasil. Fiquei muito feliz de encontrar uma weiss tão boa no nordeste. E vamos combinar, uma weiss no calor não tem igual (aliás esta weiss me fez dançar forró a noite toda). Mas a witbier da DeBron. Ah, a wit... Merece um comentário à parte. Gosto das wits belgas justamente porque são equilibradas. Mesclam as especiarias com os ésteres e fenóis das cervejas de trigo. No Brasil, são raros os exemplos que conseguem este equilíbrio. Normalmente as wits brasileiras para mim, lembram molho de salada: excesso de temperos. O que torna a cerveja difícil de beber até o fim. A wit da DeBron não. Medida, comedimento, balanço, são as chaves desta cerveja. Os sabores cítricos dos condimentos se mesclam aos do malte de trigo, produzindo uma cerveja, que talvez seja uma das melhores wits nacionais. Dá para beber litros dela numa boa, sem enjoar. E olha que porre de wit é algo que nunca consegui.  Fico devendo a Imperial Stout com mel de engenho e amêndoas de cacau, que por dias, não consegui pegar engatada no Bierdock. E fiquei sabendo de muito litros dessa estão descansando em paz em barris de carvalho francês e umburana. Imagina isso daqui um ano!

Enfim, quem for a Recife/Olinda, já pode se deliciar com as ótimas opções locais. Agora é partir para o carnaval e levar ao pé da letra o refrão:

"Voltei Recife.
Foi a saudade que me trouxe pelo braço.
Quero ver novamente Vassouras
Na rua abafando
Tomar umas e outras
e cair no passo"

E agora essas umas e outras podem ser de cervejas artesanais locais!

Segue a lista de onde se pode beber as cervejotas locais (alguns com mais de uma unidade):

Apolo Beer Café
Rua do Apolo, 164, Recife Antigo
https://www.facebook.com/apolobeercafe

Armazém Centenário
R. Barão de Itamaracá, 10, Espinheiro
https://www.facebook.com/armazemcentenario/

Beerdock
Rua Desembargador Luiz Salazar, 98, Madalena
http://beerdock.com.br/

Beer Garden 17
Avenida 17 de Agosto, 823, Casa Forte
https://www.facebook.com/beergarden17/

Beer House
R. Santo Elías, 237, Espinheiro
Rua do Futuro, 858, Jaqueira
https://www.facebook.com/cervejariabeerhouse478/

Bodega do Veio
Rua do Amparo, 212 (em Olinda!)
Av. Rui Barbosa, 546, Graças
Rua da Moeda, 162, Recife Antigo

Boteco Beer
R. Ernesto de Paula Santos, 625, Boa Viagem

Capitão Taberna
Shopping Center Parnamirim, R. João Tude de Melo, 77, Parnamirim
https://www.facebook.com/capitaotaberna/

Cibrew
Av. Norte, 2822, Encruzilhada
https://www.facebook.com/cibrew/

Entre Amigos
R. Marquês de Valença, 30, Boa Viagem
Rua da Hora, 695, Espinheiro
Av. Boa Viagem, 760
http://www.entreamigosobode.com.br/

Gato Beer
Av. Eng. Domingos Ferreira, 1537, Boa Viagem
https://www.facebook.com/gatobeer/

Mafuá do Januário
R. Cap. Zuzinha, 184, Setúbal
https://www.facebook.com/mafuadojanuario/

Mr. Beer
R. Santo Elías, 475, Espinheiro
https://www.facebook.com/mrbeerespinheiro/

Venda de Seu Antônio
R. dos Arcos, 1745, Poço da Panela
https://www.facebook.com/vendadeseuantonio/

Villa do Malte
R. Profa. Ângela Pinto, 59, Parnamirim
http://www.villadomalte.com.br

Friday 4 November 2016

Mulheres cervejeiras, mulheres mães


Deu na BBC: Uma pesquisa de cientistas britânicos sugere que o consumo moderado de bebida alcoólica durante a gravidez não causa problemas de comportamento ou de desenvolvimento de habilidades mentais ao bebê.

Calma! Esta confraria não está insinuando que consumir bebidas alcoólicas durante a gravidez seja benéfico! Leia até o final, com ternura e afeto.

Sempre tive espírito muito aventureiro e alma cigana, segundo a família. Ganhava presente em dinheiro, já comprava passagem de ônibus pra algum canto! Amigos eu tinha espalhados pelo país, e visitei muitos! Ainda bem! Hoje conheço boa parte desse país incrível! E o melhor: conheço suas gentes, seus hábitos, suas culturas, seus cheiros e sabores. Daí que esse meu espírito aventureiro me afastava totalmente da ideia da maternidade. Eu passei a maior parte da minha vida dizendo que nunca seria mãe, que não tinha o menor interesse no “quesito”. Gente, eu nunca peguei um bebê nos braços! Até que...

Linda da minha vida, morando com meu ex-companheiro em outro país, fazendo Doutorado em História da Arte (sim, muito glamour!), viajando horrores por aquela Espanha maravilhosa, depois de cumprir o sonho dele (conhecer Portugal) e o meu (me lambuzar de Grécia), acordei e senti que precisava ser mãe, simples assim. Sem questionamentos, medos ou incertezas, mudei. Passa um tempo... Marta, os livros, o enjoo, o buxo... E a vontade de tomar cerveja! Aí sim, começou meu drama. O tio médico diz que eu tô muito chata e que preciso beber, a amiga fica histérica só de você insinuar que vai beber, a vizinha diz que você não merece ser mãe porque não sabe se portar como tal e a tal da pesquisadora de Londres garantiu que um pouquinho de cerveja não vai afetar o desenvolvimento do bebê em nada. Vou gritar!!!

Bem, eu optei: Durante a gravidez (após a fase dos enjoos), tomava uma long neck de vez em quando. Durante a amamentação, tomei cerveja 0%. Eu sugiro que você faça o que você quiser, porque tenho certeza absoluta de que o seu corpo sabe o que quer e o que não quer, e as mães, mais que ninguém, entendem o que devem ou não fazer com suas crias. É nosso sangue que as alimenta, é nosso corpo que as protege, é nosso coração que as embala.

Este é um recadinho especial para as confreiras gravidinhas da nossa confraria, que pegas de surpresa ou não, estão atravessando um momento único, complexo, dramático e maravilhoso! Meninas, como a alquimia da cerveja, que transforma grãos fermentados em líquido precioso, o corpo de vocês está moldando e criando novas vidas, e são vocês que decidirão como fazê-lo, porque são vocês que as estão gestando.


Como em qualquer âmbito da nossa vida, os excessos não fazem bem, somente o abuso de amor e carinho estão liberados nessa produção de ________________ (preencha com a opção desejada: filhos/cerveja).