Wednesday 28 September 2016

Comida, cerveja e paixão

No meu primeiro texto pro nosso blog eu queria falar sobre paixão. Sim, paixão. Qualquer tipo de paixão, pois as paixões acabam se encontrando de alguma forma. Uma das nossas confreiras me pediu pra falar sobre um almoço que fizemos lá em casa, há umas duas semanas, mas eu queria mesmo era falar de amor e paixão no meu primeiro post para o nosso blog. Sério... Faz sentido, eu juro! Leia até o fim e você entenderá!

Desde pequena, eu costumava sentir os aromas vindo da cozinha quando ia visitar minha avó no interior de São Paulo. Ela era espanhola, e assimilou a culinária brasileira perfeitamente, resultando numa mescla de comida caseira brasileira temperada com uma pegada espanhola. Aquilo era um deleite! E se não era na casa da vovó Raquel, era na vovó Lulu. Ai, as estrelas na minha boca... Vovó era aquela cozinheira mineira tradicional, de mão cheia, que levava horas na cozinha, dias preparando banquetes incríveis! Das suas panelas me recordo, em especial, do leitãozinho à pururuca, do lombinho assado com batatas, daquele pudim de leite condensado... E como não?! As empadinhas de frango! Belo Horizonte me abraçava com tanto amor! Em tempo: Minha felicidade se desdobrava, pois mamãe bebeu da fonte das duas.

Pois bem. Dando um salto na conversa: Meu pai sempre usou bigode. E barba. Sempre, desde que eu nasci. E eu acho que gostava. Era muito legal vê-lo falar nas reuniões, nas aulas da Universidade (sim, eu era aquela que sempre estava a tiracolo porque não tinha outro jeito), e passar os dedos na barba, alisando-a, quase como um gesto de relaxamento. Acho que eu relaxava junto. Mas o que mais me intrigava era vê-lo conversando com as pessoas amigas no bar. Mal chegávamos e vinha o garçom, geralmente com uma tulipa de chopp, e ele sempre pedia pra caprichar no colarinho. Eu ficava observando aquele gesto dele pegando o copo cheio, observando as bolhinhas subindo, a espuma formada, e aqueles dois, três goles grandes e consecutivos sorvendo quase metade do copo. Os olhos até se fechavam pelo prazer que aquilo lhe dava. Então, ele voltava com o copo para a mesa e voltava à conversa. Eu não tirava os olhos e seguia observando porque, pra mim, o melhor estava por vir. Com o lábio inferior ele cobria parte do bigode para sorver a espuma que a cerveja havia deixado ali.

Terceiro salto nesse texto (prometo que fará sentido no final!):
Já bem adulta, me encontrei na cozinha. Talvez até por uma falha de caráter, me descobri cozinhando muito bem, e agradando paladares um tanto quanto exigentes. Antes dos 30 nem ovo eu fritava! Mas foi uma vez, por uma necessidade, quando percebi que a mágica estava ali ao meu alcance. Que com minhas mãos, meu paladar e um tanto de ousadia, eu conseguia liberar aromas incríveis pela cozinha! E digo “falha de caráter” porque uso isso para agradar às pessoas. Será? Mas isso fica pra outro post...

Então, qual é o fio da meada?

Quero dizer que cozinha boa e cerveja boa são paixões, e ambas são vividas através de afetos. Memória afetiva é o que nos move, é o que me faz ir à cozinha 3 dias antes de receber meus melhores amigos em casa, começar a preparar pratos que nunca fiz antes, ou que tenho como referência desde a infância. Memória afetiva é o que me faz entrar sozinha em um bar de cervejas especiais, passar um bom tempo namorando todos rótulos da casa e esperar sentada à mesa, com a alegria de uma criança às vésperas de seu aniversário, aguardando o primeiro gole. Aquele gole que traz tantas lembranças quanto sabores à boca, aqueles aromas que me trazem a mesma emoção que me invade ao recordar as cozinhas das minhas avós.


Cerveja e comida, afeto e paixão, saudade e presença, amizades ou não. Mergulho neste universo de sensações e prazeres e convido vocês a viverem essas histórias que contaremos por aqui.


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